terça-feira, 31 de março de 2009

O blogueiro de 1 milhão de acessos

Franklin de Freitas e André Luis Rodrigues
Fotos: Lineu Filho

Fotojornalismo Curitiba entrevista o jornalista Roberto José da Silva, o Zé Beto, titular do blog que leva o seu "nome de guerra". Sua média de acessos diários já bateu nos 20 mil. Hospedado há um ano e meio no site Jornale, a página teve 1.846.147 exibições no período que vai de agosto de 2007 a março de 2009. Isso, para ler as 15.497 informações postadas pelo profissional, que geraram 44.211 comentários.


O que é um blog? Diário moderno, dizem alguns, arrematando que nele se trocou a intimidade das folhas de papel pela exposição na tela aberta das publicações na internet. O fato é que ele acompanha a corrida maluca da evolução da informática – e, no seu vôo, arrasta profissionais de diversas áreas que utilizam a ferramenta para a divulgação de seus respectivos trabalhos e ideias.

A informação atualizada na velocidade da luz e a grande novidade da interação entre quem faz notícia e o leitor desembocaram no natural surgimento do profissional experiente no comando deste espaço. Assim, o blog jornalístico ganhou espaço, credibilidade e conquistou a rede com o que podemos chamar de “blogueiro profissional” – um internauta que também é profissional da informação.

Em Curitiba uma referência no assunto é o jornalista Roberto José da Silva, o Zé Beto. Ele comanda o blog que leva seu apelido, mas inovou ao misturar notícias de bastidores da política e outras focadas no que ele classifica de “província”, com fotografias, poesia, letras de música, etc.

Com um texto afiado, apimentado, irônico, poético às vezes, o blogueiro, de certa forma, criou um estilo próprio, onde não são raros os termos populares, muita irreverência e, não raro, uma virulência pouco comum na nossa imprensa.

Apaixonado por fotografia, Zé Beto diz que poucos sabem que colocou no ar uma galeria permanente de fotografia onde as imagens exclusivas de vários profissionais são intercaladas de notícias. Estas, aliás, muitas vezes estão assinadas por autores cujos pseudônimos foram criados sob inspiração do “Garganta Profunda”, o informante dos repórteres do jornal Washington Post que derrubaram o presidente Richard Nixon com a série de reportagens sobre o caso Watergate. No blog do Zé Beto há o Garganta de Ouro e o Garganta Falante, que, segundo o patrono, são instituições, ou seja, vários colaboradores que, por motivos óbvios, não podem ser identificados. Há ainda o “ombudsman”, sempre disposto a desancar algumas mancadas publicadas na imprensa do Paraná e uma série de “filósofos”, historiadores, açougueiros que ele “envia” para as cidades mais desconhecidas a fim de lançar petardos. Exemplo: filósofo de Braganey.

Zé criou o bordão “Pode ser tudo, pode ser nada” e divulgou o “Centro Cínico”, venenoso rótulo para o Centro Cívico, onde se concentram os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Paraná, além da sede da Prefeitura de Curitiba.

Aos 55 anos de idade (31 de Curitiba), elogiado por uns, criticado por outros, o blogueiro se orgulha em dizer que nasceu em São Paulo por descuido geográfico, porque os pais são de Palmeira dos Índios, Alagoas, e começaram a namorar no Rio de Janeiro. Ele começou a carreira como revisor da Folha de São Paulo, entrou na Editora Abril seis meses depois e ali ficou durante 14 anos, a maior parte como repórter da revista Placar, onde ganhou o apelido de Juca Kfouri. Iniciou sua aventura na internet com uma coluna no site da Revista Capital. Daí foi convidado para ser blogueiro no site Bem Paraná, do Jornal do Estado até ser contratado pelo Jornale há um ano e meio também porque já estava com 6 mil acessos diários. Em um ano e meio no novo espaço, mais que triplicou a postagem. O bate-papo que se segue foi feito através da rede.

FC - Blogar é fazer jornalismo? O que você pensa sobre isso?
ZB - Escrever bilhete é fazer jornalismo. Tenta-se passar informação para uma outra pessoa. Em muitos casos, a entrevista é auto-entrevista. Portanto, blogar também é jornalismo.

FC – Quando você começou trabalhar com jornalismo na internet, no caso o blog? E como foi essa transição, você viu muita diferença entre o texto que fazia e o que teria que adaptar para o blog?

ZB – Comecei com uma coluna digital na Revista Capital. Fiquei quase um ano lá. Depois fui convidado pelo Jornal do Estado, que estava montando o portal “Bem Paraná”. Ali fiquei um ano e o Roberto Bertholdo, do Jornale, comprou meu passe e levou junto os 6 mil acessos que tinha. Não existe diferença de texto. Existe sim diferença de veículo e você vai escrever mais ou menos dentro do padrão daquele produto. No geral, entretanto, o que se tenta é escrever o mais simples possível para dar o recado a todos. O blog tem a vantagem, pelo menos para mim, agora, de me dar liberdade total. Em todos os sentidos. Dentro de um senso de responsabilidade, claro. Escrevo o que quero, a hora que quiser e sobre o que quiser. Quem faz isso dentro da profissão? Poucos. Mas trabalho há um ano e meio, nunca parei de noticiar e minha média diária é de 30 posts. Tenho compromisso comigo mesmo e com o leitor. É o que baliza tudo.

FC – Numa das edições da Campus Party (encontro de aficionados por informática e internet realizado em São Paulo) jornalistas abriram questionamento acerca da midia, do jornalismo da credibilidade e legitimidade de blogiros publicarem conteúdo informacional na rede. Você tem opinião formada quanto a essa opinião?
ZB – A pergunta está parecendo bula de remédio. Mas, vamos lá: o que se questiona é se, na busca do furo, da velocidade, o blogueiro não estaria atropelando a qualidade da informação, porque, na maioria dos casos, ele “concorre” com os próprios repórteres do veículo para quem trabalha, etc. Sou pragmático nesse assunto, mesmo porque trabalhei em alguns jornais depois iniciar a carreira e passar anos numa revista semanal. É a mesma coisa. Repórter de jornal impresso tem o prazo fatal de entregar a matéria. Em alguns casos, como já vivenciei, é preciso apurar três matérias e escrevê-las entre as 14h e 18h. E não faça, para você ver! A vantagem do blogiro é que ele publica o essencial da notícia, em cinco linhas. Qual a diferença? A diferença é que se ele errar – e isso acontece, muda, apaga, pede desculpas, e isso tira um pouco aquela empáfia de muitos e mostra ao leitor o óbvio: todos somos falíveis. No impresso não dá para fazer isso.

FC – Seu blog tem uma influência política porque é muito lido nos gabinetes da Câmara e daAassembléia. A que se deve isso? Suas fontes? O conteúdo apresentado ou a seu nome?
ZB – Nome não influencia nada. Qualidade de informação, sim. Talvez o fato de utilizar um linguajar mais apimentado, apresentar doses cavalares de ironia, isso conta também. Mas, entre erros e acertos, se o resultado final for uma média de informação correta, vem a credibilidade. Quanto às fontes, que aumentam na medida em que você mostra que não faz picaretagem, são essenciais. Sem elas, se faz muito pouco.

FC – Das várias áreas que você trabalhou, se identifica mais com qual?
ZB – Com as que não trabalhei. Ainda não fiz polícia. Uma das melhores escolas de jornalismo, porque lida com o limite das emoções. Ou as emoções no limite.

FC – No blog há bastante destaque para a fotografia. Por quê?
ZB – Entrei na área porque sou apaixonado pela fotografia. Fotografo há 40 anos. Descobri no caminho que sabia escrever bilhetes. Virei repórter. Fotografo para mim. Como ganhei esta oportunidade de abrir espaço para as imagens, fui ampliando na medida em que eram enviadas fotografias. Sempre digo aos fotógrafos que, na verdade, o blog é uma galeria de fotografia com algumas notas nos intervalos.

“Escrever bilhete é fazer jornalismo. Tenta-se passar informação para uma outra pessoa. Portanto, blogar também é jornalismo.”
Zé Beto

3 comentários:

João Carlos Frigério disse...

O Zé Beto ainda vai ficar rico com o blog :)

Jane D'Avila disse...

Adorei a matéria. É uma oportunidade de se "aproximar" de profissional tão importante como o Zé Beto.

André Rodrigues disse...

Dalé Zé!!!!