
Foto: Anderson Tozato
Dias intensos noites extensas
Não foi fácil conseguir um vôo sobre as áreas afetadas
Foram quatro dias muito intensos de reportagens de campo. A cada hora uma nova situação inusitada descortinava o panorama caótico em que estávamos inseridos. “Era o olho do furacão”. Em frente à conturbada prefeitura de Blumenau não paravam de descer aeronaves com pessoas retiradas de áreas isoladas.
“Foi em uma dessas situações que um tripulante sinalizou-me pedindo uma cadeira de rodas para o próximo vôo, pedi a cadeira na prefeitura, mas como o helicóptero chegou antes e não havia outras pessoas para receber as vítimas, deixei a câmera de lado e tratei de transportar no colo mesmo o senhor que estava sendo resgatado”.
Enviar o material para o jornal foi quase tão complicado quanto fazer as matérias, a velocidade da internet era tão lenta que mesmo sem ter vivido o jornalismo das décadas passadas nos sentíamos nos tempos do telephoto.
Lineu Filho
Jornale Curitiba
Fui para Itajaí no último final de semana, com o intuito de trabalhar como voluntária no Parque da Marejada. Desci junto com um caminhão de donativos que saiu de Campo Largo (região Metropolitana de Curitiba) com destino a Paróquia Monte Alegre em Camburiú. Já na BR pelo número de deslizamentos, dava pra sentir um pouco do que vinha adiante, mas ainda assim eu não fazia idéia. E mesmo com a câmera na bagagem não sabia se teria coragem pra fotografar tudo o que visse pela frente.
Após descarregarmos o caminhão em Monte Alegre, fomos até um dos bairros mais atingidos de Itajaí, o Cidade Nova. Não importava para que lado eu olhasse, o cenário era o mesmo em todas as ruas: pilhas e mais pilhas de entulho – leiam-se móveis destruídos, roupas, brinquedos e muito lixo – tudo envolto em lama.
Mas além do choque visual, nunca vou me esquecer do cheiro daquele lugar, era um cheiro de lodo, um cheiro de podre, um cheiro de morte. E foi em uma dessas ruas que eu ouvi “Venha fotografar minha casa moça”, era o chamado da Dona Expedita Gonçalves da Silva Viana, 56 anos, há seis anos moradora da região.
“Não sobrou nada, perdi tudo. Até meus documentos, e por causa disso não sei se vou conseguir fazer meu cadastro pra pegar comida” – isso porque a Defesa Civil só está entregando cestas básicas para quem está cadastrado, numa tentativa de ajudar somente os que realmente foram atingidos – foi a primeira coisa que disse ao me receber no portão do que sobrou do lugar onde morava.
Na garagem dava para ver as marcas do nível em que a água chegou às roupas ainda estavam penduras no varal - mais ou menos 1,70m. Por todo o lado era somente lama e móveis revirados.
Expedita me contou que no domingo acordou às quatro e meia da manhã com água pra cima do joelho, sem luz. Juntou-se aos outros moradores da casa – 8 pessoas entre netos e filhos e 10 cachorros – na cozinha e esperou. E enquanto a água subia, lá fora ela só ouvia os animais do pasto ao lado da sua casa tentando se salvar.
Disse que abandonou a casa na segunda (24) de manhã e havia acabado de voltar, foi então que me chamou pra ver a cozinha onde o cheiro de podre era insuportável e ao olhar pro chão da cozinha além da geladeira cheia de lama atravessada no chão uma pata traseira de uma vaca no meio da cozinha fez meu estômago embrulhar. Foi o único momento em que a câmera ficou pendurada no meu pescoço, não tive coragem. A angústia e a agonia que senti ali, espero não sentir tão cedo novamente.
“Ta vendo? Sabe Deus quantos dias vou levar pra limpar tudo isso”, exclamou e começou a chorar. Segurei o quanto pude pra não chorar, mas foi praticamente impossível ver tal cena e não me colocar no lugar daquela senhora. Fiz algumas fotos, fui até o carro peguei uma cesta básica e uma caixa de leite entreguei a ela e me despedi, desejando força e coragem pra continuar.
De lá segui para o Parque da Marejada pra continuar ajudando, e apesar das caras cansadas que encontrei nenhuma delas me negou um sorriso. Outra coisa que me marcou eram os aplausos e gritos de euforia a cada término de carregamento ou descarregamento dos caminhões de mantimentos, que chegavam e saiam do centro. Verdadeiro trabalho de formiguinhas.
E foi lá que realmente entendi que boa ação, espírito de solidariedade está no coração de cada um, quando conheci o pequeno João Pedro Vaz de 7 anos, o qual eu fotografava de longe e me aproximei perguntando se poderia fotografá-lo e se a mãe dele que havia o levado para lá, quando ele sorriu e disse: “ Não foi ela que veio, eu que pedi pra ela me trazer pra ajudar, porque eu sei que tem um monte de gente precisando”.
Presenciar esse tipo de tragédia me mostra que temos que agradecer mais e reclamar menos. E que fazer a diferença não é tão difícil como se imagina, basta boa vontade.
Departamento de fotografia da Assessoria de Comunicação da Prefeitura Municipal de Campo Largo
Conheci um grupo de pessoas, seres humanos, como eu, que nos dias que estive lá pensei, eles não podem ser humanos, são mais que isso. Seres que após 3 dias de luta e persistência se mantinham em pé, incansáveis guerreiros que não paravam 1 minuto sequer correndo alucinadamente para socorrer as vítimas dessa tragédia. Seres até desprovidos de um treinamento apropriado para a situação, mas que colocavam toda a raça, toda a vontade, a gana, a persistência para salvar pessoas desconhecidas que precisavam de ajuda. Vi arriscarem suas vidas, trabalhando muitas vezes instintivamente, porém, desconheciam o medo, agiam e rapidamente salvaram centenas de vidas. Estou falando dos guerreiros que trabalharam em Gaspar, dos bombeiros comunitários e militares. Cada depoimento que me falavam era emocionante, eu imaginava a situação. Muitos correram riscos que só depois eles perceberam.
O depoimento que mais mexeu comigo, foi quando um bombeiro comunitário me disse: “Estavamos socorrendo uma mulher, e foi difícil, eu já estava a 3 dias sem dormir, estava esgotado, e quando tiramos ela da água, eu não tinha mais forças, foi quando algumas pessoas começaram a aplaudir e agradecer pelo que fizemos… Eu não estou ganhando nada para estar aqui, e naquele momento, consegui energias de onde eu não tinha, e o que eu senti dentro de mim, nenhum dinheiro pode comprar, é algo indescritível…”
Acho que não precisa dizer mais nada, parabéns guerreiros, parabéns super homens e super mulheres que salvaram tantas vidas, foi uma honra ter estado ao lado de vocês, e no meio de uma tragédia tão grande ter presenciado esse momento."
de João Carlos Frigério
No dia 27, começou em Curitiba mais uma edição do Natal do HSBC, com o tema Natal feito criança. O espetáculo, entrou em sua décima sétima edição, e acabou virando cartão-postal da cidade.
Nesta época do ano, pessoas de diversas partes do País vem à capital paranaense para prestigiar o coral de 160 crianças que solta a voz nas janelas do Palácio Avenida, que por sua vez é todo decorado com artigos natalinos.