sábado, 10 de setembro de 2011

Um bar, fotógrafos e muitas ideias

Do blogue Tudo de Fotografia


André Luís Rodrigues
Encontro foi realizado na noite de sexta-feira (9) no bar Picanha Brava, em Curitiba. Foto: Marco Lima.

Alguns chistosos repórteres fotográficos de Curitiba tomaram uma boa iniciativa ontem (9). No melhor estilo saudosista, dos tempos em que jornalistas se reuniam num bar para uma boa conversa cheia de opiniões e divergências, a galera da foto sentou-se à mesa e debateu sobre os problemas na profissão. Bate-papo regado a chope e porção de picanha e aipim (sem bebida não seria reunião de jornalistas), mas que resultou em esclarecimentos importantes e a data de um novo encontro. 

Sem caráter oficial, porém com debates pungentes e pertinentes, fotógrafos profissionais, soltaram o verbo e a conversa foi acalorada. Enquanto o chopinho refrescava os ânimos, o pessoal resgatou, dividiu experiências e foi relatando problemas que a categoria (e cada um) vem enfrentando. Entre eles a situação da (pouca) representatividade através da Arfoc-PR, desvalorização no mercado, situação dos fotógrafos enquanto trabalham na cobertura do jogos de futebol, direitos autorais que não são respeitados, invasão no mercado por profissionais sem capacitação, relação com agências de fotos e noticiais e assessorias, falta de visibilidade, falta de um calendário de eventos para os fotojornalistas com exposições, workshops, cursos, entre outros.

Boa parte da conversa ficou focada em discutir as atribuições da Arfoc-PR – que no entendimento do pessoal anda meio apagada. A frase “precisamos de mudanças” foi ecoada várias vezes, principalmente no que diz respeito ao modus operandi do exercício da profissão. Diante disso e de outros fatos, corre burburinhos em defesa da realização de uma eleição. Argumentos foram postos à mesa e debatidos. O repórter fotográficoValquir Aureliano (Kiu) encabeça o movimento com uma lista de pautas, reivindicações e está disposto a concorrer numa futura eleição. 

Do outro lado da mesa, João Noronha (Brazil Press), e que consta como primeiro secretário da Arfoc-PR, apresentou argumentos em prol da associação, resgatou fatos da história e iniciativas que ele tomou em favor de melhorar a situação dos fotógrafos e da respectiva entidade.

O fato é que muita coisa não convenceu o pessoal. A explicação de Noronha, ao fato de não “possuir carteira da Arfoc”, por ser da diretoria, soou estranho e arranha a legitimidade da questão. Contudo, a pauta é mais abrangente e põe no cerne das observações detalhes mais “profundos” como a situação da entidade (financeira e política), número de associados, prestação de contas, estatutos, e assim segue a lista. Novamente, é preciso reafirmar: o encontro não teve a pretensão de legitimidade, até mesmo porque a parte discutida, no caso Arfoc-PR e seu dirigente, não estava presente. O caráter era mesmo de opinar de forma plural (afinal, opinar todo mundo pode e deve) e propor ideias para mudanças. 

Nova reunião 
Quem sabe, ou como em certa hora da conversa apontou Noronha, os associados (repórteres e cinegras) tenham real interesse e outra reunião poderá acontecer na sede da Arfoc-PR. Com mais quórum e com abertura para questionar os assuntos que são da alçada da associação e do interesse de quem é associado. Obviamente com a participação dos repórteres fotográficos. 

Diferentes pontos de vista 
O que deu para sentir nessa pequena “confraternização’ é que cada um tem uma maneira de avaliar a que pé está a profissão. Há quem considere um problema de direção e de base, outros que é um problema de mercado e há, ainda, quem considere um problema altamente crônico, mais visceral e cancerígeno e que precisa ser visto em várias instâncias (deontológico, ético, mercadológico, etc.) – eu por exemplo, pois acredito que não é um prédio ou pessoa que constrói as dinâmicas e relações sociais da profissão e sim a própria categoria.
Sobre ontem, acho que muitas idéias foram apresentadas, mas não houve nenhuma definição de um plano de ação, além disso, houve muito foco no futebol e quase nada foi falado sobre as outras áreas do fotojornalismo”, opina o jornalista e fotógrafo Marcos Xreda

O fotógrafo freelancer Marco Lima, tem uma opinião contundente acerca do que foi debatido. “Acredito que não cabe discutir o que foi feito e sim o que vai ser feito para melhorar”, diz. Para Lima é preciso rever a concepção e modelo da profissão para depois entrar num debate propriamente dito sobre o papel da Arfoc. Justamente porque é preciso ver a que ponto a construção de “feudos” e “panelinhas” vem prejudicando a profissão.
Devemos saber o que está acontecendo no mundo em termos de novas mídias e o rumo que fotojornalistas estão tomando e revendo o papel da profissão no novo contexto multimídia, globalizado e de cooperativas de fotojornalistas. Nossa profissão está muito além da linha de corner dos jogos de futebol.” 

O fotógrafo freelancer e editor da Terra Livre Press, Joka Madruga destaca a importância desse tipo de encontro.
“Mostra que existe uma insatisfação na representatividade da categoria. A Arfoc não pode ser apenas uma emissora de carteirinhas, precisa ser atuante no dia a dia dos repórteres fotográficos e cinematográficos do Paraná. Agora é definir urgentemente a data para uma conversa com a atual direção e uma assembléia geral”, opina. 

Mover das águas 
Certo é que houve uma iniciativa e pelo menos aconteceu um encontro entre colegas para por em pauta o fotojornalismo aqui da terra das araucárias. Não foi por menos que o fotógrafo Franklin brincou que estávamos diante de um fato “nunca na história desse fotojornalismo curitibano”.  

Iniciativa valorosa, que pode e deve crescer. Independente das pretensões eleitoreiras ou mesmo de diferenças pessoais, vale promover mais encontros e mais discussão. As críticas devem ser feitas, elaboradas, fundamentadas e abertas à refutação, confronto e contraposição, para o crescimento (resgate) da profissão. Quem sabe, a partir disso, comece os milagres!

Um comentário:

André Rodrigues disse...

Grande dia! Boas conversas, muitas ideias e a possibilidade de ocorrer outro encontro. Só depende dos colegas (categoria).