quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Centenários



Foto: Valquir Aureliano

Ele só tem um defeito. E isso porque sou atleticano. Mesmo assim, para quem gosta de fotografia, e principalmente fotografia de esportes, vulgo futebol, é necessário ajoelhar e agradecer de mãos postas a oportunidade de apreciar o trabalho de Orlando Kissner, que daqui em diante aqui será chamado pelo nome de guerra, o nome de boleiro que ele é, mesmo sem dar um bico no capotão, já que a barriga não deixa. O Polaco é um dos melhores do mundo. E aqui não vai patriotismo, amizade, o escambau. Tem gente que nasceu para fazer merda na vida. O Polaco nasceu para registrar a poesia e magia deste esporte que tanto encanta. Ninguém sabe de onde vem isso. Eu acredito em Deus. Olhou para ele, jogou uma Nikon F na mão do rapaz e disse: vai alegrar a torcida na vida. E ele foi. Conheço o Polaco desde que desembarquei nesta Curitiba de polacos. Faz 31 anos. Ele mandava uma bala bonita na grande e cobiçada Tribuna do Paraná, onde começou como motorista e foi protagonista daquela explosão do caminhão de dinamite. Ou seja: antes do primeiro clique esse bicho já era um estouro. Faturava uns trocos no governo do Estado e foi por essa época que nos aproximamos. Eu via aqueles deslumbres de fotos nos jogos de pernas de pau daqui e convidei-o para cobrir férias do mestre Sergio Sade, meu companheiro na Placar. No primeiro trabalho, cobrindo o Desafio das Águias no aeroporto do Bacacheri, as imagens do Polaco arregaçaram as páginas num ensaio fotográfico que jamais esquecerei. Bem, aí ele foi embora, para a sede da revista em Sampa, depois mudou de endereço na Marginal do Tietê e sentou praça no jornal O Estado de São Paulo, viajou o mundo cobrindo Copas, ficou conhecido pelas agências internacionais, voltou à terrinha, trabalhamos juntos no Palácio Iguaçu e agora, de vez em sempre, quando vai ao estádio em missão, ele me liga: tem umas coisinhas para você. Bem, as coisinhas todo mundo pode ver no meu blog. Domingo passado, por exemplo, saí da Baixada pensando em escrever um texto sobre o Paulo Baier, o único jogador que se salva desta campanha triste do Atlético no Brasileirão. Pois o Polaco telefonou quando eu estava entrando no carro e disse: “Peguei a seqüência do gol de cabeça do Baier”. Precisa comentar? Alguém já disse um dia que estes fotógrafos predestinados não fazem a foto – ela os procura. Com o Polaco sempre foi assim. Além dessa ligação direta com não sei o quê, ele ainda tem o dom de vivenciar histórias fantásticas e engraçadas, que conta com a seriedade dos mestres da comédia, enquanto a gente rola pelo chão de tanto rir. É amado por tudo quanto é boleiro e técnico. Ele faz parte deste filme emocionante. Um dia, só para encerrar, telefonei para ele em Sampa e pedi um favor: queria uma camisa do São Paulo autografada por alguém, para mandar para meu irmão Ricardo Silva, que mora em Alagoas. Pouco tempo depois fui buscar a encomenda na sucursal do Estadão. Abri e quase caí de costas. Tinha as assinaturas de todos os jogadores daquele timaço do Telê Santana, campeão mundial etc, inclusive com a do próprio. Nunca perguntei, mas aposto que ele apareceu no Morumbi com a camisa e disse: “Assina aí que é para um amigo”. Todos obedeceram. A camisa está emoldurada. Minha amizade com o Polaco também, neste jogo da vida.

Zé Beto


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