segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

“No olho do furacão”


Do blog Tudo de Fotografia
Fotos: André Rodrigues (2011).

André Rodrigues

O jogo entre Atlético (PR) e Coritiba (PR), realizado no último dia 4 de dezembro, era importante para as duas equipes no que diz respeito ao Campeonato Brasileiro 2011. De uma lado, Coritiba esperando garantir uma vaga na Taça Libertadores; do outro, o Atlético em estado de sofrimento, beirando o rebaixamento para a segunda divisão. O Atletiba, como é chamado o clássico paranaense, ganhou ares de “jogo do século”, tamanha a importância da partida.

Eu e o colega de profissão, Marco André Lima, freelancer que somos, combinamos a ida (pauta) para a cobertura do jogo. Chegamos cedo ao estádio do Furacão – por volta das duas da tarde (14 horas). Movimentamo-nos, rodamos, caminhamos e tudo estava tranquilo. A ideia era conceber um ensaio do que acontecia do lado de fora do estádio, já que o assunto segurança e policiamento foram amplamente divulgados nos principais veículos de comunicação da capital - o maior de esquema de segurança já montado pela Polícia Militar - aproximadamente 1,5 mil policiais, sendo 1,3 mil somente da PM, além de Polícia Civil e outras.  

Bem, resolvemos arriscar e ficar até o último minuto, pois com a chegada das torcidas organizadas as fotos começaram a ganhar foco e entusiasmo.

Foto vai, foto vem, de repente, uma marcha de soldados da PM foi acionada e o princípio de confusão começou. Bombas de efeito moral, gritos, tiros com balas de borracha, cavalaria, cassetetes, torcedores correndo, outros encurralados tentando entrar na sede de uma torcida organizada do Atlético, que fica próximo ao estádio.

A ordem de comando foi clara. E clara também foi nossa intenção de fotografar. O instinto fotográfico cega. E o lema de Robert Capa ("Se a foto não está suficientemente boa, é porque você não está suficientemente perto.”) sobe à cabeça. E vamos lá correr atrás dos policias, ficar à mercê de levar um ‘chega pra lá’ e tudo mais.

Nem tanto assim. Cautela e respeito são fatores primordiais e bem aceitos. Garante outras pautas. Poucos fotojornalistas ou cinegrafistas acompanharam aqueles momentos de tumulto. E confesso: fui cauteloso.

Erros e acertos
Obviamente, o acontecimento rendeu um material (fotos). Tive menos sorte. Aliás, como discuti com o Lima em seguida – sempre fazemos uma avaliação da pauta e das fotos – ele foi mais para cima e garantiu uma grande cobertura. Nisso podemos dizer que falhei.

Naturalmente quando se está diante de uma situação em que os ânimos se exaltam, a sensação de controle se evapora como o suor que escorre. Cabe ao fotojornalista saber  seu limite. 


Diante do dito acima, avaliei que meu trabalho deixou a desejar. Ficou aquele gosto na garganta que poderia sair mais. De repente o medo, a adrenalina, o respeito, a situação inusitada, entre outros, possam ser argumentos. Mas, enfim... faltou aquela foto de expressão, faltou aquela foto de ação, faltou o punctum, faltou chegar mais perto... faltou.

Problemáticas
A situação era de “dispersão”. Policial mandava e para bom obedecedor meia palavra bastava. Do contrário significava enfrentamento. E enfrentamento com batalhão de choque traduz-se em coerção.

Por isso, faz-se necessário estar bem identificado. O crachá do veículo de imprensa e principalmente a identificação de repórter fotográfico fazem diferença para que o policial possa separar o joio do trigo.

Ir fazer uma cobertura de jogo com as cores do time e pedir para ser confundindo com torcedor.

Outro ponto pertinente é o maldito celular. Trabalhar “fotografando” com celular e dizer que é da imprensa não ajuda muito. Justamente vale o dito acima: câmeras, identificação, colete de imprensa, crachá da instituição que regulamenta a profissão, são mais que protetores de segurança.

Trabalhei e não tive nenhum tipo de problema, seja de ordem física ou moral. Não obstante, há quem ficou em situação problemática. 


Inclusive os times. O Atlético ganhou, mas foi rebaixado. O Coxa perdeu e não garantiu a vaga. 



Da imagem: Fiz a foto 1 com uma Canon 40D, lente 17- 70mm  f/6,3, 1/400 s, ISO 500, modo manual.
Foto 2 - f/11,3, 1/400 s, ISO 500, modo Prioridade de velocidade.
Vídeo publicado na internet: 0m22s - André e Marcos Lima

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